quinta-feira, 12 de março de 2009

Ninho de ratos em galinheiro dos ovos de oiro

Quem vive em Ponta Delgada vê a sua cidade crescer a olhos vistos. Ele é obras aqui, ele é obras ali, enfim um autêntico estaleiro que parece nunca mais acabar. Fruto deste crescimento exponencial irá esta cidade daqui a uns tempos ver nascer um enorme elefante branco ali para os lados da marginal onde, em tempos não tão distantes como possam à primeira vista parecer, esta cidade à beira mar plantada, via as suas gentes trabalhadoras florescerem.
Acontece que certo dia alguém terá tido a triste ideia de pensar que o que é passado já lá vai, e como o futuro é aqui e agora, vai de enterrar este passado. Ora o que esse alguém não pensou é que, com tão “vil acto” para com quem sempre ali viveu e trabalhou, o resultado final não poderia ser outro que não o que se nos é dado a presenciar por aqueles lados.
O elefante branco a que me refiro trata-se do novo hotel que irá ali nascer. Mas atenção, não se trata de apenas ser um hotel a mais que se junta ao já largo leque de hotéis que esta cidade viu nascer nos últimos anos. É que este hotel traz consigo o que considero ser um verdadeiro “presente envenenado”. No interior deste novo hotel está a ser construído um casino que, segundo os “entendidos na matéria”, será factor de desenvolvimento económico para a ilha e para a região. Pergunto-me se não se estará a cair na tentação de tapar o sol com a peneira com este discurso. Que a região precisa de desenvolvimento, é mais que sabido que esta é uma realidade. Criar desenvolvimento que vá de encontro à realidade da população, é necessário e desejável. Criar desenvolvimento não pensado, indo ao encontro das necessidades de alguns, é que acho ser um motivo de reflexão por parte de que detém o poder. Senão vejamos. O local onde irá agora nascer o casino é conhecido por ser socialmente problemático. Começam a ser inúmeros os relatos de problemas sociais que se desenvolveram nos últimos anos na Calheta Pêro de Têive, fruto do crescente número de repatriados que ali fazem poiso.
Ora a questão que se coloca é esta: não se estará a tentar tapar uma realidade por si só negativa com a criação deste casino?
E daí advêm outras questões: Não seria preferível investir o dinheiro gasto neste empreendimento em programas de reabilitação social que tivessem como fim a erradicação destes problemas sociais?
Não será este casino um foco de desigualdade para uma zona já desqualificada?
Não se estará a cair numa “política facilitista” onde interessa mostrar trabalho feito a curto prazo de tempo ao invés de se apostar num política mais difícil de se aplicar mas, com frutos duradoiros?
A meu ver tenta-se de uma forma subtil esquecer que por detrás de um “ninho de ovos de oiros” se esconde “um ninho de ratos” que, se não for alvo de tratamento, corre o risco de se tornar numa praga de difícil controlo.

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