terça-feira, 24 de novembro de 2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A ilha vista do mar


Ver a ilha do ponto de vista do oceano é uma experiência que todos os açorianos deviam poder colocar em prática. O azul do céu e do mar que se mistura com o verde da ilha toma mais significado com uma tal experiência. Sempre me habituei a ver a ilha de um único ângulo, o de terra. Ela oferece uma vida cheia de vivência e experiências, contudo é do lado do mar que se percebe toda a sua capacidade e esplendor.
Deste lado da ilha percebo que ela é maior do que alguma vez poderia imaginar, nunca comparável a um continente, contudo grande para os padrões estabelecidos na minha mente. Lá ao longe consigo perceber que o ilhéu de Vila Franca começa a tomar forma destacada da restante costa. Para lá deste consigo ver, de uma forma ténue, a cordilheira da qual faz parte o Pico da Vara. Como sempre, as nuvens quase impossibilitam o seu visionamento. Há uma neblina que envolve este monstro com que me defronto. Respeito-o mais do que nunca. O mar calmo balanceia este barco e parece-se com um lago. Nele espelham-se as nuvens do céu e o sol quente da manhã que já vai alta. O barco a toda a velocidade dirige-se para o alto mar. A busca de vida marinha é para muitos um meio de subsistência, quer se trate de pesca ou de observação de cetáceos. Neste caso falo da segunda opção. Nunca tinha tido a oportunidade de participar em tal jornada, mas, como diz o ditado, antes tarde que nunca.
Ali ao largo da costa aproxima-se já um grupo de golfinhos. Em gestos de brincadeira aproximam-se de nós, levados pela curiosidade seguem-nos por onde vamos. Lá está um que agora dá um salto acrobático. É o espectáculo natural desta ilha, e nós, qual plateia cheia, aplaudimos e assobiamos em apresso para com este tão belo animal. Só me dou conta de que é um mamífero quando ouço o respirar à tona de água. Se pudesse ser um animal que não o ser humano, quereria poder ser um golfinho. Palmilhar este mar que me rodeia e saltar, e brincar como eles. São os golfinhos o mais sociável dos animais que conheço. Sinto uma simplicidade na suas acções, nos seus movimentos subtis por debaixo do nosso barco. E ora que mais um se exibe para nós. Pergunto-me se eles terão alguma espécie de inteligência que lhes permita tirar alguma conclusão de cada vislumbre que têm sobre a nossa espécie. Gostaria de poder sentir o que eles sentem.
Somos agora avisados de que um grupo de cachalotes fora avistado a algumas milhas da costa, lá para os lados do Faial da Terra. A todo o vapor lá seguimos em busca deste extraordinário ser que habita as nossas águas. Chegados ao ponto de encontro não avistamos nada de relevante. Este é um ser que não gosta muito de confusões. Prefere uma vida mais pacata e silenciosa, talvez seja por isso que passados dez minutos ainda não avistamos nada. É sabido que este magnifico ser habita nos mares dos açores durante todo o ano, é uma espécie natural da região, talvez os maiores açorianos existentes (não apenas no sentido de tamanho). É então que conseguimos ouvir e ver o tão característico respirar desta espécie. Como se fosse um foguete, vemos um enorme jacto de água um pouco mais longe do local onde estamos. Alegria se faz neste barco, tal como os antigos baleeiros que caçavam este animal. Não seremos nós também baleeiros como outros no passado o foram?
Lentamente nos aproximamos mas, este animal não quer nada connosco. Depressa se esconde neste mar. Pouco os consegui vislumbrar. Apenas deu para perceber de que se tratava de uma mãe e da sua cria. Certamente andavam nas suas rotinas. São um animal mais desconfiado; talvez tenham gravados na sua memória hereditária (pura especulação) um sinal que os avisa para a existência de um animal que sem escrúpulos se aproveita deles. Talvez seja por isso que tão depressa fogem da nossa presença.
Daí a pouco somos avisados de que mais uma espécie de baleia anda nas redondezas da costa para os lados da Relva. Apressadamente para lá nos dirigimos em busca de melhor sorte.
Nada! Novamente uma imensidão de mar á nossa frente. Apenas, aqui e ali, como quem nada quer, umas gaivotas voam a escassos centímetros da água. É então que somos surpreendidos com um salto de um baleia. Mais uma explosão de aplausos e assobios arranca cada um de nós dos assentos do barco. Lá está ela! Grita o mestre do barco. E em tom de surpresa somos presenciados com mais uns três ou quatro saltos. Esta baleia que saber o que se passa, a sua curiosidade incita-nos a uma aproximação.
Lentamente, para que ela não se assuste, lá vamos nós.
Vê-se o seu rasto deixado na água. Um animal deste porte deixa as suas marcas bem vincadas neste mar que hoje parece um lago. Subitamente, ali tão perto de nós ela vem respirar á tona de água. Um jacto de água assinala a sua proximidade. Quase que a podemos tocar. Desta vez trata-se de uma baleia-de-bryde, um das muitas subespécies de baleias de barbas – que é o mesmo que dizer que são baleias que se alimentam de pequenos seres – que sazonalmente aqui vêm procriar. São os estrangeiros do mundo das baleias. Apenas cá estão durante alguns meses pois as condições são favoráveis por estas bandas nesta altura do ano.
Este magnifico animal, impulsionado pela curiosidade, aproxima-se de nós a cerca de cinco metros. Posso sentir a sua robustez, embora não se compare com a massiva baleia-azul. Ainda assim é uma animal bem grande para os padrões a que estou habituado. Nunca vira uma animal maior que um elefante de circo que há alguns anos aqui passara. Este magnifico animal, pelo qual me apaixonei imediatamente, transmite-me uma total sensação de paz. Com gestos subtis, desloca-se por estas águas. Vira-se de barriga para cima, como que a convidar a uma carícia, como fazem os gatos e os cães. Mas este animal não é propriamente um gato ou um cão. Não se pode chegar-lhe e fazer-se-lhe umas festinhas. É pena pois gostaria de poder sentir a sua pele; poder com os meus dedos sentir a vida deste “monstro” dos mares.
Com mais umas voltas e reviravoltas lá deixamos o animal ficar. É hora de voltar. O espectáculo por agora acabou. Fecha-se o pano, arrumam-se a cadeiras e toca a zarpar para terra firme que já se faz tempo.
A ilha, agora sob um sol escaldante, chama por nós. E nós, obedientes, lá vamos. Na verdade é a barriga que já está a dar horas. Já marchava bem um almocinho.
Outros dias como este virão. Mais segredos se revelarão vindos das profundezas deste mar e eu, se o PAI me permitir, cá estarei para os conhecer.


Miguel Teixeira de Andrade

sábado, 15 de agosto de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

APANHA



Em São Miguel a colheita tem início a partir de meados do mês de Abril e termina em Setembro, procedendo-se, normalmente, a uma apanha de catorze em catorze dias. A apanha é feita mecanicamente em plantas a partir do quinto ano de vida. É uma operação que exige habilidade, conhecimento e experiência, para que seja efectuada correctamente.

MURCHAMENTO I



No murchamento as folhas são espalhadas em tabuleiros a fim de perderam a humidade. Durante o murchamento a folha torna-se mais maleável, enrolando sem quebrar o que irá facilitar a fase seguinte.

MURCHAMENTO II



Nos murchadores antigos o tempo de murchamento, em média, era de 18 horas. Durante o murchamento a perda de humidade da folha, resulta directamente no aumento da permeabilidade da parede celular, o que vai aumentar a eficiência da mistura enzima e substrato, na fase de fermentação.

ROLAGEM I



Nesta fase, utilizam-se roladores mecânicos que enrolam a folha sobre si mesma no sentido do comprimento, sob pressão, e mantendo um movimento contínuo de rotação, que procura imitar a operação manual de enrolamento.

ROLAGEM II



A rolagem normal é de aproximadamente meia hora. Podendo esta fase ser complementada com uma segunda ou terceira rolagem, a que são submetidas as folhas mais grosseiras, depois da passagem da massa pelo seleccionador verde.

FERMENTAÇÃO

O termo “fermentação” continua a ser utilizado para designar esta fase, embora de forma incorrecta, pois o que se passa é uma oxidação enzimática. A fermentação começa nos roladores e continua na sala de fermentação onde a massa é espalhada em tabuleiros metálicos. Durante a fermentação a folha muda de cor, tornando-se “cobre acastanhada” e um aroma típico desenvolve-se e vai-se intensificando.

SECAGEM

A secagem tem como finalidade interromper a fermentação, inactivando as enzimas responsáveis pelo processo fermentativo, com o recurso a elevadas temperaturas. Na fábrica do chá do Porto Formoso, as folhas colocadas num secador, equipado com tapete rolante, são submetidas a uma corrente de ar quente á temperatura de 90º, num circuito de 20 minutos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Ilha Grande Fechada: Reflexões

O título da obra de Daniel de Sá Ilha Grande Fechada aponta para uma ideia de um isolamento em que estas ilhas sempre viveram sendo que a emigração era a única escapatória possível. A emigração é o tema central deste romance/novela.
Em sete dias de viagem que são os correspondentes aos das tradicionais romarias quaresmais que todos os anos se realizam em cada freguesia desta ilha, Daniel de Sá dá a conhecer a realidade desta ilha no tempo da guerra colonial em que muitos perderam a vida e, onde os poucos que regressavam com vida, prometiam ir em oração durante aquela semana, quer em agradecimento da benesse recebida – ainda permanecerem vivos - , quer por forma a rogar que não tivessem a infelicidade de ter que voltar para a guerra. Como instrumento desta reflexão está João[1] que, por altura da guerra colonial, havendo sobrevivido aos riscos inerentes a ela ligados, prometera fazer uma romaria quaresmal em forma de agradecimento de pés descalços e a pão e água. Contudo há nele uma vontade em se desprender do isolamento a que estas ilhas sempre estiveram ligadas. É sua vontade partir para o Canadá assim que acabe esta sua jornada. Cansado da vida de lavoura que leva João decide, como tantos outros o fizeram, partir em busca de algo mais que, esta ilha fechada[2] não consegue oferecer. Para Tal decide partir no dia seguinte ao do término da romaria. Esta viagem é o mote para uma reflexão sobre esta vivência fechada que o Açoriano tem e da qual se tenta libertar por meio da emigração para países tão distantes como os Estados Unidos da América e o Canadá. A emigração sempre fez parte da vivencia dos Açorianos. Muitos daqui partiram levando as suas vivências e tradições. Nos Países de acolhimento foram recebidos de braços abertos, estabeleceram-se e prosperaram. Criaram raízes que no futuro continuarão sempre a crescer, contudo há sempre uma ligação à ilha. Ano após ano são aos milhares os que voltam. Cheios de um profundo sentimento de saudade vêm à ilha cumprir promessas, rever a família, enfim, buscam o profundo silêncio que esta ilha ainda tem e que, nem sempre encontram nestas terras de acolhimento. Como João, são muitos os que voltam e integram estas romarias quaresmais. Vários serão certamente os motivos para que retornem. Cada qual sabe o seu mas, o argumento que talvez a eles seja comum, prende-se com o facto de ser difícil organizar este tipo de romaria nestes países de acolhimento pelo simples facto de as distâncias a percorrer serem inevitavelmente diferentes.
Várias questões se levantam com a leitura desta obra. Desde logo a primeira prende-se com o facto de se poder ou não contextualizar esta obra no
cenário da literatura de viagens que se desenvolveu em Portugal com o início das viagens marítimas dos descobrimentos.
Identificando a literatura de viagens como «textos que narram deslocações de indivíduos ou grupos através de espaços mais ou menos dilatados, mesmo quando, recorrendo à imaginação ou beneficiando de uma evocação a posteriori, se afastam em maior ou menor grau de realidade histórica vivida pelos seus autores narradores»[3]. Contudo uma literatura de viagens implica também falar de si através do outro[4].
Considera-se então possível integrar esta obra na literatura de viagens no sentido em que esta tem por base uma viagem empreendida por uma personagem, que se sabe ser ficcional e que indirectamente[5] o narrador/autor propõe que o leitor faça por si uma reflexão sobre a condição de ilhéu em que o Açoriano vive. Ou seja, embora não haja uma reflexão explícita que se traduza nas acções/pensamentos de João, há no entanto um apelo do autor ao leitor para estas reflexões, tendo por cenário esta viagem que é uma romaria quaresmal e, por meio de alguns episódios narrativos que fazem parte da trama da obra que permitem ao leitor conhecer a realidade desta ilha.
Outra questão que se levanta prende-se com o facto de haver uma necessidade em destacar a existência de uma literatura Açoriana ou se existirá apenas uma literatura assente em temáticas Açorianas uma vez que a «existência de uma Literatura Açoriana no quadro cultural da Literatura Portuguesa tem levantado várias questões teóricas de algum tom polémico. A
reivindicação de um carácter açoriano para uma literatura de língua portuguesa não só se tem feito por via das expressividades linguísticas locais (fonéticas e lexicais), como também por aspectos telúricos e de uma natureza insular, como ainda por um protesto do espírito autonómico, que quer ver reconhecida uma identidade. A literatura referida aos Açores seria açoriana em plena significação da palavra se açoriana fosse um adjectivo de nacionalidade. Não sendo os Açores independentes (a nível político ou linguístico), é um adjectivo de impregnação de conteúdo, de referências culturais»[6]. Desta forma, talvez não se possa falar na existência concreta de uma literatura Açoriana uma vez que ainda são poucos os autores Açorianos de renome e que, a nível nacional sobretudo, tenham já cartas dadas. Deste pequeno número de autores destacam-se nitidamente nomes como Antero de Quental, Vitorino Nemésio ou até mesmo Natália Correia. Todo o restante corpo de autores existentes é ainda pouco conhecido do grande público. De entre eles destacam-se sobretudo Dias de Melo, João de Melo[7] e Onésimo Teutónio de Almeida. Desta forma poderá então considerar-se que a temática açoriana é ainda base de uma literatura que lentamente se tem desenvolvido
e que, embora tenha ainda um longo caminho a percorrer, tem certamente boas possibilidades de se desenvolver e ganhar peso a nível nacional.
O conceito de Literatura Açoriana está inevitavelmente associado a um sentimento de independência dos Açores perante Portugal continental e, é sobretudo um factor cultural que vem reforçar esta ideia de independência. Existe sim, ainda, uma literatura que tenta dar a conhecer a cultura açoriana. É neste enquadramento que surge então esta obra de Daniel de Sá. Preocupado com a sociedade e com o individuo, Daniel de Sá, baseando-se num quadro de Tomás Vieira com o mesmo nome, “pinta” a sua versão deste quadro com traços de uma realidade que tão bem conhece, sendo que é natural da freguesia da Maia em S. Miguel.
Há nesta Ilha Grande Fechada um profundo sentido de ilhéu que se espelha nos sucessivos episódios novelísticos que constituem esta obra. Quem nela vive conhece e entende claramente os cenários que Daniel de Sá descreve através de vivências tão características desta ilha.
Com episódios que têm as tradicionais festas de freguesia como cenário de fundo, ou até mesmo com quadros da vida privada das personagens, o leitor é transportado para esta realidade que a ilha é. Quem não conhece esta realidade de perto, certamente terá interesse em a conhecer. Para tal têm contribuído algumas adaptações de outras obras similares que, sobretudo nos últimos vinte anos, foram transpostas para o meio televisivo. Há nesta obra
uma vertente novelística passível de ser transposta para este meio e que, certamente poderá contribuir para que a obra chegue ao grande público.
Já vimos que esta obra poderá ser incluída na literatura de viagens mas, uma vez que Daniel de Sá se limita a utilizar a temática das romarias como ponto de partida para este romance/novela., impõe-se a necessidade de uma reflexão sobre esta temática. Antes de mais, para aqueles que desconhecem esta tradição, sabe-se que terá começado por volta do ano de 1522 aquando da ocorrência de um terrível terramoto que assolou a ilha e que destruiu por completo a então capital Vila Franca do Campo. De forma a “apaziguar a ira de Deus”, grupos de irmãos passaram então a organizar-se todos os anos e a saírem em oração de forma a passarem em todas as igrejas e ermidas existentes na ilha que tivessem a Mãe de Jesus como padroeira. Um facto curioso que só mais recentemente tem sido apontado para que estas romarias ocorram por altura da Quaresma[8] revela que esta tradição se possa ter desenvolvido nesta época pois era uma altura em que não haviam colheitas a fazer nos campos[9] e, como tal, havia maior disponibilidade para que um maior número de fieis pudesse fazer parte destas romarias que se organizavam anualmente. Ainda hoje esta tradição subsiste, embora com pequenas alterações que pouco influenciam a essência e o espírito que nesta
tradição existem. Já são muito poucos os casos em que se pagam promessas de pés descalços ou até mesmo em jejum[10]. Já não existe a dificuldade que havia em outros tempos porque a sociedade evoluiu. Contudo o que fica é que desde 1522 todos os anos por esta altura inúmeros fiéis largam a sua vida por uma semana e dedicam-na à oração e à meditação. No entanto há uma questão que se levanta e que requer uma resposta objectiva. Será esta tradição uma romaria ou uma peregrinação?
Ambas as palavras têm o mesmo significado, ou seja, uma romaria é uma peregrinação ou se preferirmos uma viagem empreendida até locais de oração, neste caso igrejas e ermidas existentes por toda a ilha. Contudo a romaria diferencia-se da peregrinação ao nível sentimental da pessoa. Assim uma romaria apela a um sentido colectivo de oração conjunta. Apela a uma colectividade sentimental de todos os integrantes da romaria. Todos passam
pelas mesmas dificuldades e todos passam pelas mesmas privações. Toda esta envolvência sentimental apela também à inter-ajuda entre irmãos.
Ocorre muitas vezes um irmão estar a sofrer fruto da dificuldade da caminhada. Para aliviar esta dor, há irmãos que se oferecem para levar os pertences daquele irmão que está a sofrer ou então ajuda-se a tratar desse sofrimento com alguma espécie de medicamento ou até por meio de uma palavra amiga. É este sentido colectivo que move a romaria e nele perdura a
tradição. Uma peregrinação será uma viagem pessoal ao interior da pessoa com a envolvência de uma romaria, ou seja, é algo mais subjectivo ao irmão que integra uma romaria. Vai em viagem como todos os outros, sempre em oração, contudo não deixa de fazer uma viagem dentro de si. Será uma viagem psicológica empreendida numa viagem que ocorre ao nível físico. Uma viagem dentro da caminhada empreendida por um individuo onde há lugar para a descoberta de si e do que o rodeia. É neste ponto que Daniel de Sá não toca directamente pelo facto de não haver uma reflexão que se transmita pela voz do personagem principal que participa desta romaria aqui narrada.
A obra que Daniel de Sá criou está ainda fechada ao público. Para que este possa ter conhecimento da sua existência, terá que existir uma definição clara do que representa num panorama literário Açoriano, sendo que um primeiro passo a tomar, poderia certamente ser considerada a hipótese de uma adaptação cinematográfica por forma a despertar consciências para o que de melhor se faz por cá.

[1] João, de quem não se sabe o apelido, é a personagem principal da obra.
[2] S. Miguel.
[3] In CASTRO, Aníbal Pinto de, “Literatura de Viagens”, Biblos, Volume V, [779-790] Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo.
[4] Outro no sentido de semelhante.
[5] No sentido de não haver uma reflexão directa.
[6] In GOUVEIA, Maria Margarida Maia, Literatura Açoriana, 29 de Abril de 2009, http://pg.azores.gov.pt/drac/cca/enciclopedia/ver.aspx?id=8210.
[7] Embora tenham o mesmo apelido, ambos são de ilhas diferentes. O primeiro é natural da freguesia da Calheta de Nesquim, ilha do Pico, enquanto o segundo é natural da freguesia da Achada ilha de S. Miguel.
[8] Tempo que prepara as festividades da Páscoa por meio da meditação e oração.
[9] Não esquecer que a produção de leite que agora é a principal base económica da região se desenvolveu tardiamente. Por altura destes acontecimentos a principal cultura existente era a do trigo e do centeio que prosperava por grande parte da ilha.
[10] Por força das dificuldades em que se vivia, muitos romeiros faziam as suas promessas descalços e, muitos até, faziam-na a pão e água.
BIBLIOGRAFIA

CASTRO, Aníbal Pinto de, “Literatura de Viagens”, Biblos, Volume V, Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo.
FREITAS, Vamberto, O imaginário dos escritores açorianos, Edições Salamandra, Lisboa.
GOUVEIA, Maria Margarida Maia, Literatura Açoriana, 29 de Abril de 2009, http://pg.azores.gov.pt/drac/cca/enciclopedia/ver.aspx?id=8210.
SÁ, Daniel de, Ilha Grande Fechada, Edições Salamandra, Lisboa, 1992.

terça-feira, 2 de junho de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

NASCI

Silêncio! Manhã submersa na bruma,
O mar repousa, a luz abre-se.
Peixes nadam num vazio imenso.
Subitamente, bolhas!

Quebra-se o silêncio.
CaBum! CaBum! Convulsão emerge.
Três bocas cantam,
Som estridente, melodia diabólica.

Fogo, (grita o peixe) fujam!
E todos se afastam.
Que é!? Que é!?
É a mãe terra que vai dar à luz!

Do fundo me ergui lentamente.
Vi a luz do dia e chorei lágrimas,
Vi o céu, vi o mar.
Beleza rara, PAZ alcançada.

Com o tempo, cresci triste.
Ao longe, minha irmã me fala.
Vejo-a do outro lado, calma e serena.
Atenção! (diz-me ela) Águas se agitam!

Ao longe, barca.
Quem vem lá!? Quem se atreve a cá vir!?
Somos Portugueses! Aqui vimos estabelecer.
Por vontade do PAI e D'el Rei de Portugal.

Se é esta a vossa vontade... seja!
Notai senhores!
Outros vieram, outros partiram.
Vosso destino está traçado.

Mil vezes tremi,
Mil mais tremerei.
Em mim, gente,
Festa, angustia e dor.

Do nada me fiz,
E do nada sou.
Miguel! S. Miguel sou eu.
De entre nove, pedaço maior.

Verde que se esconde,
Basalto vivo.
Grito que chama,
E que nada responde.

Miguel Teixeira de Andrade

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre as romarias em S. Mguel

Será esta tradição uma romaria ou uma peregrinação?
Ambas as palavras têm o mesmo significado, ou seja, uma romaria é uma peregrinação ou se preferirmos uma viagem empreendida até locais de oração, neste caso igrejas e ermidas existentes por toda a ilha.
Contudo a romaria diferencia-se da peregrinação ao nível sentimental da pessoa. Assim uma romaria apela a um sentido colectivo de oração conjunta. Apela a uma colectividade sentimental de todos os integrantes da romaria. Todos passam pelas mesmas dificuldades e todos passam pelas mesmas privações. Toda esta envolvência sentimental apela também à inter-ajuda entre irmãos. Ocorre muitas vezes um irmão estar a sofrer fruto da dificuldade da caminhada. Para aliviar esta dor, há irmãos que se oferecem para levar os pertences daquele irmão que está a sofrer ou então ajuda-se a tratar desse sofrimento com alguma espécie de medicamento ou até por meio de uma palavra amiga. É este sentido colectivo que move a romaria e nele perdura a tradição.
Uma peregrinação será uma viagem pessoal ao interior da pessoa com a envolvência de uma romaria, ou seja, é algo mais subjectivo ao irmão que integra uma romaria. Vai em viagem como todos os outros, sempre em oração, contudo não deixa de fazer uma viagem dentro de si. Será uma viagem psicológica empreendida numa viagem que ocorre ao nível físico. Uma viagem dentro da viagem empreendida por um individuo onde há lugar para a descoberta de si e do que o rodeia.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eles

Eles acordam sabendo que vão sair.
Sabem que o dia é grande, saem alegres.
Correm e buscam algo que não sabem o quê.
E buscam tudo como se o tudo fosse real.

Sabem que têm que ser assim.
Não sabem que são máquinas.
Máquinas, máquinas que se engracham!
Eles ficam velhos de tanto uso.

Eles são felizes na sua tristeza.
Eles buscam nada.
Eles alegram-se com tão pouco,
Eles são nada.

E quando chega o dia ao fim,
Alegres vão eles ao centro.
Plim, plim! Correm rios de ouro.
Um dia acaba-se, outro virá e nada muda.


Miguel Teixeira de Andrade

quinta-feira, 30 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ninho de ratos em galinheiro dos ovos de oiro

Quem vive em Ponta Delgada vê a sua cidade crescer a olhos vistos. Ele é obras aqui, ele é obras ali, enfim um autêntico estaleiro que parece nunca mais acabar. Fruto deste crescimento exponencial irá esta cidade daqui a uns tempos ver nascer um enorme elefante branco ali para os lados da marginal onde, em tempos não tão distantes como possam à primeira vista parecer, esta cidade à beira mar plantada, via as suas gentes trabalhadoras florescerem.
Acontece que certo dia alguém terá tido a triste ideia de pensar que o que é passado já lá vai, e como o futuro é aqui e agora, vai de enterrar este passado. Ora o que esse alguém não pensou é que, com tão “vil acto” para com quem sempre ali viveu e trabalhou, o resultado final não poderia ser outro que não o que se nos é dado a presenciar por aqueles lados.
O elefante branco a que me refiro trata-se do novo hotel que irá ali nascer. Mas atenção, não se trata de apenas ser um hotel a mais que se junta ao já largo leque de hotéis que esta cidade viu nascer nos últimos anos. É que este hotel traz consigo o que considero ser um verdadeiro “presente envenenado”. No interior deste novo hotel está a ser construído um casino que, segundo os “entendidos na matéria”, será factor de desenvolvimento económico para a ilha e para a região. Pergunto-me se não se estará a cair na tentação de tapar o sol com a peneira com este discurso. Que a região precisa de desenvolvimento, é mais que sabido que esta é uma realidade. Criar desenvolvimento que vá de encontro à realidade da população, é necessário e desejável. Criar desenvolvimento não pensado, indo ao encontro das necessidades de alguns, é que acho ser um motivo de reflexão por parte de que detém o poder. Senão vejamos. O local onde irá agora nascer o casino é conhecido por ser socialmente problemático. Começam a ser inúmeros os relatos de problemas sociais que se desenvolveram nos últimos anos na Calheta Pêro de Têive, fruto do crescente número de repatriados que ali fazem poiso.
Ora a questão que se coloca é esta: não se estará a tentar tapar uma realidade por si só negativa com a criação deste casino?
E daí advêm outras questões: Não seria preferível investir o dinheiro gasto neste empreendimento em programas de reabilitação social que tivessem como fim a erradicação destes problemas sociais?
Não será este casino um foco de desigualdade para uma zona já desqualificada?
Não se estará a cair numa “política facilitista” onde interessa mostrar trabalho feito a curto prazo de tempo ao invés de se apostar num política mais difícil de se aplicar mas, com frutos duradoiros?
A meu ver tenta-se de uma forma subtil esquecer que por detrás de um “ninho de ovos de oiros” se esconde “um ninho de ratos” que, se não for alvo de tratamento, corre o risco de se tornar numa praga de difícil controlo.

terça-feira, 10 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre a cultura do Facilitismo

A língua Portuguesa é pródiga em adoptar novas terminologias; como tal surge agora a noção de facilitismo. Decidi desenvolver o tema e, após uma pesquisa referente ao termo, deparei-me com a falta de definição própria para o mesmo. Sendo então impossível definir o termo por via do ensinamento que um bom dicionário nos oferece, parti para uma busca pessoal de forma a poder desenvolver o tema. Poderá então classificar-se a palavra como derivação directa da palavra “facilitar” com o sufixo “-ismo”.
Sendo “-ismo” a designação para doutrinas, modos de proceder ou pensar poderá então concluir-se que o termo devidamente contextualizado define uma cultura de aceitação social à ideia de que tudo é fácil.
Os tempos mudaram e como tal, o que outrora era algo difícil de obter, é nos dias que correm uma realidade completamente transformada. Não à muito tempo atrás seria inconcebível considerar que a sociedade tivesse acesso a tantos meios tecnológicos bem como a um tão vasto conhecimento centrado não na experimentação, mas sim no ensinamento. A meu ver a questão do ensinamento pode trazer muitas vantagens pois permite que um maior número de pessoas tenha acesso ao conhecimento o que, inevitavelmente possa contribuir para um maior número de pessoas informadas e aptas a contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Embora esta seja a principal vantagem de um maior acesso de pessoas ao conhecimento, não implica que as pessoas ajam de uma forma crítica perante as questões que se lhes deparam.
Em meu ver é neste ponto que se centra a cultura do facilitismo. O facto de as pessoas não terem um sentido crítico – o que não implica que não o tenham, podem apenas não ser capazes de o demonstrar – contribui para que estas assimilem e aceitem as coisas tal como lhes são apresentadas, ou seja, não questionem nem desenvolvam ideias próprias. Nesta premissa poderá concluir-se que as pessoas possam considerar que tudo é fácil e, a um nível educativo (ou académico) isto implica que a vida possa ser vista como - utilizo aqui a expressão popular “tudo é um mar de rosas”- fácil. Considero que banalizar a vida desta forma poderá ser negativo pois em casos extremos tal idealização (facilitismo) poderá conduzir a que, por inevitável apreensão da realidade, se possa contribuir para os níveis de criminalidade aumentem. Considero que esta noção deve ser pensada pois, em caso contrário, corre-se o risco de que gerações futuras possam deixar de lado valores que sempre existiram.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sobre a Liberdade II

Volto a este tema pois gostaria de tentar perceber que conceito é que as pessoas têm acerca do termo. Assim é porque aparentemente este não tem o mesmo sentido em todas as pessoas, ou seja, quero com isto dizer que aparentemente todas as pessoas entendem que liberdade implica – aplicando aqui a expressão popular – “fazer o que dá na real gana”.
O primeiro ponto que leva ao levantamento da questão prende-se com o facto de, pelo facto de todos nós sermos diferentes uns dos outros, implica claramente que o termo possa de forma natural e inconsciente ser interpretado de forma diferente por um indivíduo X e, ser interpretado de outra forma totalmente diferente por um indivíduo Y. Parece-me que o leitor irá concluir então que esta premissa poderá ser a resposta definitiva à problemática da liberdade. Tem toda a razão em assim pensar pois em verdade assim é, esta é a natureza humana. É na diferença que se constroem identidades e, são estas identidades que desenvolvem acções.
Ora se assim é, então o porquê da questão da liberdade ser levantada?
Parece-me que mais que atribuir a primeira solução para o problema, há que tentar perceber que há algo mais que esta simples resposta. Deixar-se ficar nesta simplicidade é não ter sentido crítico e talvez seja por isso que nos dias que correm se veja tanta apatia perante estas questões.
Voltando ao ponto central, poderia considerar que a resposta surge no facto de a sociedade ter mudado radicalmente, não só a nível social, como ideológico. Todos nós sabemos que a nossa tradição (ou se preferirem cultura) assenta em regras intimamente ligadas a componente religiosa. Mais que as regras sociais, sempre imperaram regras morais. Estas é que contribuíam para a conduta do indivíduo e, este não tinha forma de negar estas regras pois, poderá considerar-se que pela mão da força vinda da religião, preciso era que se aceitassem estas leis. Para tal contribuiu em muito o facto de o País ter vivido grande parte do século XX em ditadura. Ditadura que, associada justamente ao poder – que por si só era como que um fardo – da religião, enjaulava as mentes das pessoas e, perseguia aqueles que ousavam insurgir-se perante tamanho poderio.
Com o 25 de Abril cai o regime e, subsequentemente e de uma forma gradual, o poder da religião em servir como exemplo de ensinamento perde-se. Poderá considerar-se que existe uma ruptura das pessoas para com a religião e, a meu ver, também um distanciamento desta para com as pessoas.
Penso que esta transformação sócio – política pode ser a principal explicação para que na contemporaneidade a liberdade possa ter outros contornos que não os que tinha à algumas décadas atrás.
Olho para o presente e vejo com pesar que o termo está corrompido na sua essência devido a estes dois pontos. Por um lado uma interpretação individual e pessoal deste e por outro uma transformação social que contribuiu para que este se tornasse em motivo de questionamento até que ponto uma total liberdade de um individuo não vem diminuir a liberdade de outro.
Não será esta liberdade excessiva fruto do individualismo e materialismo em que a sociedade mergulhou? Não será que o ensino que hoje em dia temos, em vez de contribuir para consciencializar, esteja em vez disso a criar “máquinas”? Não estaremos a tornar-nos apáticos a estas questões?
Penso que a resposta a estas só poderá surgir de uma consciencialização individual perante as mesmas e, de uma vontade em mudar rumos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Povo Açoriano

Este povo dos Açores
-As nove ilhas dos amores!
Foi Deus que assim o fez;
Um povo de sonhadores
-A sonhar se esquecem dores!
O povo mais português.

Povo simples, franco e rude,
-Nada é bom como a saúde!
De alma sã e corpo são,
Que, na escola da virtude,
Não há quem assim estude!
Pensa com o coração...

Tem por mestra a Natureza,
-Que é a mestra que mais preza!
Por livros... o céu e o mar,
Onde, em lições de clareza,
-À luz do Sol sempre acesa!
Aprende a sentir e a amar.

Ama a eterna poesia
-Como é belo o que Deus cria!
Das coisas, do amor, do bem...
E sente a melancolia
-Que mística nostalgia!
Das saudades do Além...

O seu olhar é tristonho,
-Antes triste que bisonho!
Tem um vago não sei quê...
Parece que anda, num sonho,
-Se há um mundo mais risonho!
A ver o que outro não vê...

Sua vida é calma e santa,
-A vida que assaz me encanta!
Vida que também vivi;
Na ventura ri e canta,
É isto o que mais me espanta!
Na desgraça canta e ri...
É na guerra o mais guerreiro,
-Bem o sabe o mundo inteiro!
O mais dócil é na paz,
Nas fadigas... prazenteiro,
-Quem trabalha tem dinheiro,
Nas aventuras... audaz!

Em sua alma, clara e linda,
-Como uma alvorada infinda!
Sem sombras, nem maldições,
Não entrou a peste ainda
-Peste maldita e malvinda!
Das modernas seduções...

Tem génios de um brilho vero
-A quem adoro e venero!
Artistas, sábios, heróis...
Tem poetas como Antero,
O poeta a quem mais quero!
E tem um Bento de Góis.

São simples as suas festas ,
-Nas aldeias mais modestas!
Ingénuas festas cristãs;
Suas danças são honestas,
-Quase virgens, graves, mestas!
Como de irmãos com irmãs...

Ter umas jeiras de terra,
-Junto à praia ou junto à serra!
Ter uma esposa leal:
...Eis o desejo que encerra
-Que vezes ele não erra!
O seu mais rico ideal...

Para as labutas do dia,
-A cantar com alegria!
Levanta-se ao arrebol:
Cava, monda, colhe, cria...
Já quando o suor lhe esfria!
Só descansa ao pôr do Sol.



As suas faces são ninhos,
-Onde poisam estorninhos!
Cheias de ar e luz e cor...
Onde há pão, lume e carinhos,
-Crianças são passarinhos!
Sagrados ninhos de amor...

Só tem doenças, lutos,
-Os ódios da sorte brutos!
Secas, ventos... nada mais;
Reza às plantas, benze os frutos,
-Que sorridentes minutos!
E fala aos seus animais...

Crê em Deus e na amizade,
-Ó santa simplicidade!
Preza a honra, cumpre a Lei,
Defende sempre verdade,
-Que instinto de liberdade!
O direito, a Pátria e a grei...

E, embora longe do Mundo,
-Que humilde viver jucundo!
Nestas ilhas tão gentis...
Entre as ondas do mar profundo!
Ó mar vasto, ó mar profundo!
Vive em paz... ledo e feliz!


in AMARAL, Manuel Augusto de, Antologia Poética, Edição Comemorativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada, Pág. 297

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sobre a Democracia

Democracia, a palavra que nos pertence e que tanto mal nos faz. É uma visão obscura e sem futura que a Democracia nos dá nos dias que correm. O presente promete um futuro incerto e longe dos ideais básicos da nossa suposta Democracia.
Como todos sabemos a Democracia, supostamente, deveria estar assente na população que, todos os dias trabalha e dá o seu melhor para que o país evolua e esteja preparado para enfrentar as constantes alterações mundiais. Infelizmente a realidade é bem diferente. Interessa mais salvaguardar os interesses privados dos grandes grupos económicos em detrimento dos interesses das populações. É incompreensível o estado a que a governação em Portugal chegou.
Todos os dias somos bombardeados com a notícia de que mais uma fábrica vai, ou já fechou, largando milhares de pessoas no desemprego com casa para pagar, estudos dos filhos para pagar e uma enormidade de juros para pagar aos bancos que, sem dó nem piedade, cobram e amontoam mais rios de dinheiros aos seus grandes lagos. O governo pactua com esta realidade e é pena que assim seja. É pena que não haja quem tenha a coragem de implementar estes ideais que nos guiam no dia-a-dia.
Ainda recentemente saiu a notícia de que o preço a pagar aos produtores de leite Açorianos irá baixar. Pergunto-me se não estará a haver uma tentativa de “linchamento” da profissão de lavrador que, diga-se de passagem, é como todas a outras tão importante pois senão fosse esta, não haveria o leite que muitos tomam no pequeno almoço. Sendo o leite da região um produto de extrema qualidade devido à alimentação natural das nossas pastagens, não se percebe como pode haver a vontade de neutralizar a produção de um bem, que vale pela sua diferença e que, sendo bem promovido lá fora, pode inevitavelmente ser fonte de lucro para a região. Penso que é hora de parar para pensar se não estaremos a seguir-nos por ideais sócio-económicos e padrões de política que já deram provas de estar errados.

Sobre o Estatuto dos Açores

Não entendo este braço de ferro institucional que se instalou na “terra mãe” no qual os AÇORES, e escrevo em letra maiúscula para realçar a grandeza deste povo destas ilhas que, à custa de muitas dificuldades sempre sobreviveu e sobreviverá sem se deixar abater.
Segundo o nosso Presidente da República os ideais democráticos sobre os quais nos regemos foram destruídos desde que a proposta para alteração ao estatuto da Região Autónoma dos Açores foi aprovado em Assembleia da República. Segundo este, com o novo estatuto, as suas funções ficam em risco pois para que o parlamento Açoriano possa ser, em caso de extrema necessidade distituído, para além das vozes que tomam partido nessa decisão terá também o Governo Regional que dar o seu parecer na matéria. Posso dizer que sou leigo na matéria em questões de legislação mas, como qualquer bom cidadão posso deduzir e até mesmo questionar se esta questão não terá sido colocada em praça pública por forma a que, quem detém o poder possa esconder acções legislativas com cariz urgente que visam proteger os grandes grupos económicos que, “governam o país”.
Ainda recentemente foram alteradas leis que visam apoiar financeiramente grandes grupos económicos que gerem, ou pelo menos deviam saber gerir as nossas economias mas, que em vez disso, vieram apenas piorar a situação económica do país. A estes grupos “a vida é facilitada” enquanto que ao cidadão comum, e neste caso concretamente, ao AÇORIANO que é muitas vezes privado do bem estar devido à sua condição geográfica, é dificultada a vida para se poder melhor governar. Ao fim ao cabo se pararmos para pensar sobre a questão, o que aqui está em causa é “ dar um pouco mais de trabalho” ao Presidente da República em ouvir um órgão governamental de extrema importância como o Governo Regional que, este sim, zela pelos nossos interesses quando a isso é chamado.
Diz o Presidente que a democracia foi gravemente ferida com a criação desta lei mas pergunto-me se não é também ferida a lei quando são dados apoios a estes grupos que pouco fazem senão “esbanjar” o nosso dinheiro e depois virem bater à porta do governo a pedir ajuda, sempre com apoio da lei do sigilo bancário que nada mais faz que não seja encobrir uma má gestão por parte destes grupos económicos.

O Presépio de Natal