sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

VAZIO TEMPORAL I

Que lugar tem Portugal no mundo? Como se une um povo em volta de um bem comum? Estas questões têm me levado a pensar que até somos algo especiais, temos algo para oferecer ao mundo mas, infelizmente andamos meio perdidos, sem rumo e esse desnorte leva-nos a estar em constante desassossego ideológico.
Não sei se será pelo facto de estarmos num mundo em que interessa mais a velocidade das acções, a quantidade de capital que o ferimos, do que a qualidade destas mesmas acções, a simplicidade delas. Sinto que algures no tempo houve algo que nos fazia acreditar que as nossas capacidades serviam o bem comum, um tempo em que tudo era possível e que agora esse idealismo se perdeu por entre uma neblina espessa que nos circunda. Parece que estamos envoltos num manto gigante e dele não queremos sair porque temos medo de afirmar ao mundo o que somos. Esse tempo fantástico que vivemos é passado( sim eu sei), contudo sinto uma espécie de necessidade de voltar a ele, embora nunca o tenha vivido.
Não sei como se une um povo! Vejo-o amorfo e sem capacidade de resposta às constantes alterações mundiais. Quero acreditar nele, mas ao mesmo tempo sinto que ele sempre ficará impávido à mobilização. Talvez se explique este conformismo ao nosso contexto teológico, ou até mesmo ao contexto político que vivemos. Do ponto de vista teológico sempre estivemos ligados a uma noção religiosa em que, mais que colocar na prática os ensinamentos, soubemos sim, viver de tradições e esperar que o todo poderoso concedesse a graça divina de realizar as nossas mais singulares ambições e desejos. Talvez aí se explique o nosso período áureo. Soubemos ultrapassar barreiras e medos em torno de um bem comum, propagar a mensagem de união e igualdade entre povos. Será? Não teremos nós contribuído também para uma desunião? Não teremos começado as guerrilhas teológicas entre povos?
Estas questões levam-me ao contexto político que vivemos actualmente. Sabemos que o país viveu “preso de si” durante cinquenta longos anos. Fechou-se por completo do mundo em que vivia. Sob uma prática teolócico-social muito bem estruturada viveu de e pelas tradições, enquanto que lá fora o pensamento ideológico se desenvolvia vertiginosamente. Assistimos impávidos ao mais negro período da história mundial e nada soubemos fazer para colocar em prática estes mesmos ensinamentos teológicos que tanto apregoamos. Passados estes cinquenta anos abrimo-nos enfim o mundo. Mudamos (de forma radical porque a isso fomos obrigados) a nossa forma de agir, contudo não soubemos parar para pensar como iríamos abarcar esta nova realidade. Agora passados cerca de trinta e cinco anos desde o nosso re-desabrochar (talvez tenha aqui criado um nova palavra a adicionar ao nosso já longo léxico), sinto que esta impavidez se deve não só ao facto de ainda estarmos sob o efeito das “drogas teológicas” a que durante séculos fomos submetidos, mas também a esta espécie de nova religião na qual vivemos, o consumismo exacerbado.
Parece que queremos desintoxicarmo-nos conscientemente de uma droga e colocamo-nos, de uma forma inconsciente, sob o efeito de outra que nada mais tem feito que não seja cegar-nos. Parece que entramos numa espécie de buraco negro, numa espécie de vazio temporal, numa espécie de ideologia morta da qual não sabemos/queremos sair. Como se faz para unir um povo desunido? Como se guia um barco que parece estar á deriva? Haverá algum capitão que tenha a coragem de se impor às dificuldades e nos guie por correntes mais favoráveis? Existirá por aí algum D. Sebastião que saia da manhã submersa e nos leve ao caminho correcto?
Miguel Teixeira de Andrade

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