quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Povo Açoriano

Este povo dos Açores
-As nove ilhas dos amores!
Foi Deus que assim o fez;
Um povo de sonhadores
-A sonhar se esquecem dores!
O povo mais português.

Povo simples, franco e rude,
-Nada é bom como a saúde!
De alma sã e corpo são,
Que, na escola da virtude,
Não há quem assim estude!
Pensa com o coração...

Tem por mestra a Natureza,
-Que é a mestra que mais preza!
Por livros... o céu e o mar,
Onde, em lições de clareza,
-À luz do Sol sempre acesa!
Aprende a sentir e a amar.

Ama a eterna poesia
-Como é belo o que Deus cria!
Das coisas, do amor, do bem...
E sente a melancolia
-Que mística nostalgia!
Das saudades do Além...

O seu olhar é tristonho,
-Antes triste que bisonho!
Tem um vago não sei quê...
Parece que anda, num sonho,
-Se há um mundo mais risonho!
A ver o que outro não vê...

Sua vida é calma e santa,
-A vida que assaz me encanta!
Vida que também vivi;
Na ventura ri e canta,
É isto o que mais me espanta!
Na desgraça canta e ri...
É na guerra o mais guerreiro,
-Bem o sabe o mundo inteiro!
O mais dócil é na paz,
Nas fadigas... prazenteiro,
-Quem trabalha tem dinheiro,
Nas aventuras... audaz!

Em sua alma, clara e linda,
-Como uma alvorada infinda!
Sem sombras, nem maldições,
Não entrou a peste ainda
-Peste maldita e malvinda!
Das modernas seduções...

Tem génios de um brilho vero
-A quem adoro e venero!
Artistas, sábios, heróis...
Tem poetas como Antero,
O poeta a quem mais quero!
E tem um Bento de Góis.

São simples as suas festas ,
-Nas aldeias mais modestas!
Ingénuas festas cristãs;
Suas danças são honestas,
-Quase virgens, graves, mestas!
Como de irmãos com irmãs...

Ter umas jeiras de terra,
-Junto à praia ou junto à serra!
Ter uma esposa leal:
...Eis o desejo que encerra
-Que vezes ele não erra!
O seu mais rico ideal...

Para as labutas do dia,
-A cantar com alegria!
Levanta-se ao arrebol:
Cava, monda, colhe, cria...
Já quando o suor lhe esfria!
Só descansa ao pôr do Sol.



As suas faces são ninhos,
-Onde poisam estorninhos!
Cheias de ar e luz e cor...
Onde há pão, lume e carinhos,
-Crianças são passarinhos!
Sagrados ninhos de amor...

Só tem doenças, lutos,
-Os ódios da sorte brutos!
Secas, ventos... nada mais;
Reza às plantas, benze os frutos,
-Que sorridentes minutos!
E fala aos seus animais...

Crê em Deus e na amizade,
-Ó santa simplicidade!
Preza a honra, cumpre a Lei,
Defende sempre verdade,
-Que instinto de liberdade!
O direito, a Pátria e a grei...

E, embora longe do Mundo,
-Que humilde viver jucundo!
Nestas ilhas tão gentis...
Entre as ondas do mar profundo!
Ó mar vasto, ó mar profundo!
Vive em paz... ledo e feliz!


in AMARAL, Manuel Augusto de, Antologia Poética, Edição Comemorativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada, Pág. 297

1 comentário:

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado