terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sobre a Liberdade II

Volto a este tema pois gostaria de tentar perceber que conceito é que as pessoas têm acerca do termo. Assim é porque aparentemente este não tem o mesmo sentido em todas as pessoas, ou seja, quero com isto dizer que aparentemente todas as pessoas entendem que liberdade implica – aplicando aqui a expressão popular – “fazer o que dá na real gana”.
O primeiro ponto que leva ao levantamento da questão prende-se com o facto de, pelo facto de todos nós sermos diferentes uns dos outros, implica claramente que o termo possa de forma natural e inconsciente ser interpretado de forma diferente por um indivíduo X e, ser interpretado de outra forma totalmente diferente por um indivíduo Y. Parece-me que o leitor irá concluir então que esta premissa poderá ser a resposta definitiva à problemática da liberdade. Tem toda a razão em assim pensar pois em verdade assim é, esta é a natureza humana. É na diferença que se constroem identidades e, são estas identidades que desenvolvem acções.
Ora se assim é, então o porquê da questão da liberdade ser levantada?
Parece-me que mais que atribuir a primeira solução para o problema, há que tentar perceber que há algo mais que esta simples resposta. Deixar-se ficar nesta simplicidade é não ter sentido crítico e talvez seja por isso que nos dias que correm se veja tanta apatia perante estas questões.
Voltando ao ponto central, poderia considerar que a resposta surge no facto de a sociedade ter mudado radicalmente, não só a nível social, como ideológico. Todos nós sabemos que a nossa tradição (ou se preferirem cultura) assenta em regras intimamente ligadas a componente religiosa. Mais que as regras sociais, sempre imperaram regras morais. Estas é que contribuíam para a conduta do indivíduo e, este não tinha forma de negar estas regras pois, poderá considerar-se que pela mão da força vinda da religião, preciso era que se aceitassem estas leis. Para tal contribuiu em muito o facto de o País ter vivido grande parte do século XX em ditadura. Ditadura que, associada justamente ao poder – que por si só era como que um fardo – da religião, enjaulava as mentes das pessoas e, perseguia aqueles que ousavam insurgir-se perante tamanho poderio.
Com o 25 de Abril cai o regime e, subsequentemente e de uma forma gradual, o poder da religião em servir como exemplo de ensinamento perde-se. Poderá considerar-se que existe uma ruptura das pessoas para com a religião e, a meu ver, também um distanciamento desta para com as pessoas.
Penso que esta transformação sócio – política pode ser a principal explicação para que na contemporaneidade a liberdade possa ter outros contornos que não os que tinha à algumas décadas atrás.
Olho para o presente e vejo com pesar que o termo está corrompido na sua essência devido a estes dois pontos. Por um lado uma interpretação individual e pessoal deste e por outro uma transformação social que contribuiu para que este se tornasse em motivo de questionamento até que ponto uma total liberdade de um individuo não vem diminuir a liberdade de outro.
Não será esta liberdade excessiva fruto do individualismo e materialismo em que a sociedade mergulhou? Não será que o ensino que hoje em dia temos, em vez de contribuir para consciencializar, esteja em vez disso a criar “máquinas”? Não estaremos a tornar-nos apáticos a estas questões?
Penso que a resposta a estas só poderá surgir de uma consciencialização individual perante as mesmas e, de uma vontade em mudar rumos.

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