terça-feira, 21 de outubro de 2008

Sobre o vazio cultural

Uma ideia tem vindo a desenvolver-se no meu consciente, o facto de poder existir uma falta de interesse pela nossa cultura. Posso estar errado mas, começo lentamente a aperceber-me que começam a surgir “duas facções” ou se preferirem dois grupos divergentes no seio da sociedade Açoriana.
Por um lado temos aquelas gerações mais velhas que viveram num tempo em que nada havia para além do dia-a-dia do cultivo da terra e onde a religião cumpria um papel vital na transmissão de conhecimentos culturais e sobretudo tradicionais. Por outro temos as actuais gerações que nasceram num seio onde a cultura é diversificada e transmitida não só por via tradicional mas, sobretudo da crescente revolução tecnológica.
Tendo por ponto de partida a existência destes dois grupos, é natural que esta questão do vazio cultural se coloque pois temos aqueles do primeiro grupo que não vêm com bons olhos estas constantes alterações. Se é verdade que muitas vezes estas gerações impõem barreiras à assimilação de novos conhecimentos, não é menos verdade que estas detém valores culturais deveras importantes que, não devem ser deixados desaparecer.
Em relação às novas gerações constata-se que um desinteresse pelo que a elas lhes pertence naturalmente hereditariamente tem vindo a contribuir para que haja ou possa vir a acentuar-se a existência deste vazio cultural. Perante este cenário há que repensar o papel que a educação tem e deve ter por forma a que esta tendência possa diminuir.
Tomo por exemplo as recentes eleições legislativas regionais que mais uma vez são o espelho desta realidade. A par de outros actos eleitorais, o número de abstencionistas ultrapassou os 50%. Ora se esta percentagem da população decidiu que não iria votar, a primeira ideia que transparece é a de que estes não estão interessados em política nem que estão minimamente preocupados em ter um parecer no seio da assembleia legislativa regional, através de representação directa por meio dos deputados que são eleitos. Este é um exemplo claro de como os valores têm vindo a perder-se mas, é e deve ser acima de tudo uma chamada de atenção para quem quem é responsável pela educação, pense ou repense como estamos a transmitir ideologias, tradições ou até mesmo o conhecimento a estas novas gerações.
Outro exemplo que gostaria de salientar e que a meu ver tende cada vez mais a cair no esquecimento refere-se à ideia que a Diáspora e subsequentemente as suas gerações têm da sua cultura de origem. Todos sabemos que por dificuldades de sobrevivência grande parte da população desta ilhas se viu obrigada a ter que emigrar para novas terras em busca de melhores oportunidades e que na bagagem destas não foram apenas as coisas materiais mais importantes à sua sobrevivência, bem como a sua cultura. Estes emigrantes de primeira geração , na sua maioria, tenta manter esta chama cultural acesa e sempre que possível tentam voltar, nem que seja para matar as saudades. O cerne da questão centra-se sobretudo naqueles de segunda ou até mesmo terceira gerações. Que percepção têm estes desta região? Conhecerão as suas tradições e particularidades? Conhecerão a sua cultura e tradições? Constato com profunda tristeza que estas gerações têm vindo a perder o interesse em questões que acima de tudo nos identificam e diferenciam no mundo. E vejo um total falta acção por parte de quem detém o poder de mudar este rumo. Fica a questão no ar, o que pode cada um de nós fazer para que se possa assistir a uma mudança tendencial que, em último caso ( e esta é apenas uma visão apocalíptica da matéria) pode levar à extinção da cultura Açoriana.

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